E ela voltou
Ela estava bem longe.
Viajou mundos, gravou seus olhares nas pessoas, na vida pulsando em atitudes, em palavras, em alguns corpos nus, em silêncios humanos.
Algumas vezes, parou, mirou alguns olhares, se viu em outros e respirou fundo jogando para o alto as saudades que a atormentavam.
Estava tão longe...
Criou laços de afetividade, lutou e sofreu contra e pelo dualismo das pessoas que passaram por sua vida, despediu-se de universos insanos, sorriu para traços bonitos projetados pelas idéias, sofreu trapaças, desequilibrou-se pelos caminhos incertos que foi encontrando e continuou como um peregrino ávido do seu nirvana.
Foi, parou, descansou, prosseguiu. Por tanto tempo seguiu a intuição de buscar e conhecer. Mas tinha um lamento silencioso que lhe falava, que queria voltar. Talvez para reencontrar as passadas que deixou marcadas nas gentes de sua aldeia ou para aplacar o turbilhão de gritos que desarmonizava com a sua fome de ir, ir, ir.
Estava vivendo os caminhos que traçou distante dos longes de sua aldeia. E conheceu e sofreu e sorriu. E como aprendeu pois foi para tantos lugares ,absorveu o conhecimento de outros pensamentos, perdeu-se em algumas novas passadas no caminho que ,algumas vezes, eram íngremes e escolheu livremente andar.
E caminhou e caminhou e caminhou. E quis voltar.
Até que, numa manhã qualquer reviu o seu mar, seus céus, suas paisagens que nunca morreram em sua alma. Sentiu suas couraças tremerem, alguns adotivos desafetos envelhecidos e marcados pelo próprio feitiço moral , olhou, de soslaio, para as passadas pesadas e desequilibradas que eles marcavam nos passeios sujos e descuidados de sua aldeia.
Voltou e iniciou seus reencontros e suas buscas.
Pelas praças, por becos da memória, por casas não mais encontradas, por pessoas que não mais estava ali. E fechou os olhos abrindo a audição para ouvir os silêncios que lhes eram permitidos e nunca esquecidos.
Passos e paradas. Surpresas e desencantos por tanto que a encantou um dia. Mas seus!
Tempo de buscas, de reencontros.
Tempo de reencontro com sua vastidão de sentimentos remexidos em sua volta à aldeia.
Tempo de encontrar olhares conhecidos, ouvir suas histórias relembrando algumas onde eram personagens vivenciados.
Eu, Faxineira de Ilusões a vi de longe caminhando como se desbravasse seu chão.
E já era noite quando reapareceu diante de mim. Parou na praça onde a imponência de uma construção chora as atitudes que ali acontecem anos e anos. Parou no espaço onde sempre conversávamos e ouvíamos a alegria de infantes iniciando o aprender. Numa praça que não tem mais o prédio de um sonho da “dama dos olhos azuis” descaracterizando suas lembranças.
Com cicatrizes na alma Ela amparou a tristeza optando por conversar, contar seus andares, sorrir com suas quimeras pelas terras que andou e falou e a escutei num silêncio cúmplice.
Escutando-a enxerguei a sua essência (como de tantas e de tantos que sonharam muito, adolescendo e dando as mãos a um sentimento nunca encontrado possivelmente porque a crença na utopia era siamesa de alma ) intocável, livre das amarras das tantas andadas por lugares que conheceu.
Escutei e feliz a cumprimentei com boas vindas.
Ela voltou.